A data representa um dos muitos momentos necessários para refletirmos sobre as lutas e conquistas das mulheres ao longo da história.
No Brasil, acredita-se que a escolha da data tenha relação com um incêndio que atingiu uma fábrica de tecidos nos Estados Unidos, porém a verdadeira história é outra. A primeira manifestação ocorreu no século passado, em 26 de fevereiro de 1909, no estado de Nova York, e reuniu cerca de 15 mil mulheres que protestavam contra a exploração e a precariedade em seus locais de trabalho.
Em outubro de 1910, na Dinamarca, durante a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, a líder socialista alemã Clara Zetkin sugeriu a criação de uma agenda anual de ações em benefício das mulheres. Até então, nenhuma data havia sido estabelecida; assim, a partir de 1911, os protestos passaram a acontecer anualmente, em diferentes dias até que, em 8 de março de 1917, um grupo de operárias foi às ruas manifestar contra a fome e a Primeira Guerra Mundial e as participantes sofreram duras represálias e tal fato deu início à Revolução Russa. A partir daí, o movimento socialista adotou o 8 de março como o Dia Internacional da Mulher e diversos países inseriram a data em seu calendário, mas a oficialização da Organização das Nações Unidas aconteceu apenas em 1975, durante o Ano Internacional da Mulher.
Desigualdades e dificuldades
As mulheres, desde os seus primórdios, travam duras batalhas em prol de seus direitos, sobretudo na busca pela igualdade entre os gêneros e do respeito à figura feminina como ser independente.
A sociedade foi construída sob a perspectiva de que o homem detém o poder primário e predomina em determinadas funções sociais; essa cultura invalidou o potencial das mulheres de todo o mundo por muitos séculos. Elas precisaram lutar para terem o direito de frequentar a escola, a universidade, conquistar o direito ao voto e, em alguns países, direito a dirigir e andar pelas ruas desacompanhadas.
Além disso, brigaram para ter o direito de praticar futebol que, no Brasil na Era Vargas, foi decretado como um esporte que ia contra a “natureza feminina”. A Lei do Divórcio também foi um fato muito importante para a vida da mulher brasileira, já que as divorciadas eram mal vistas pela sociedade.
Apesar de, infelizmente, a mulher ainda ser o alvo de diversos tipos de violência, o combate a esse tipo de crime ganhou força com a criação das Delegacias da Mulher e das Leis Maria da Penha e do Feminicídio.
Entretanto, mesmo diante de tantas conquistas, sabemos que as diferenças entre os gêneros, raças e classes sociais, ainda atingem a vida das milhões de mulheres espalhadas ao redor do mundo. Dentre aquelas que mais sentem o impacto da desigualdade e da vulnerabilidade estão as moradoras das periferias brasileiras.
O trabalho é uma das principais questões que escancaram as diferenças sociais entre homens e mulheres, brancos e pretos. Durante a pandemia da Covid-19, por exemplo, segundo a Pnad Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 8,5 milhões de mulheres deixaram a força de trabalho entre julho e agosto de 2020. O levantamento Sem parar o trabalho e a vida das mulheres na pandemia apontou que as mulheres negras foram as mais afetadas pelo desemprego, representando 58% das desempregadas brasileiras.
Além da dificuldade de se colocar no mercado de trabalho, elas enfrentam as diferenças salariais que ainda existem. Um estudo do IBGE revelou que as mulheres ganham, em média, 45% menos que os homens e, quando se analisa esse fator sob uma perspectiva racial, observamos que mulheres brancas recebem 70% a mais que mulheres negras, dessas 23% trabalham como domésticas. Já entre as mulheres brancas o percentual de trabalhadoras domésticas cai para 6,1%.
A luta da mulher periférica
Sabemos que, por diversos aspectos, a mulher periférica foi e é a mais afetada pelas diferenças sociais, e não apenas em tempos de pandemia, muitas delas são mãe solo e tem de lidar com jornada tripla (trabalhos múltiplos, cuidados com a casa e filhos).
Além disso, muitas vivem em situação de vulnerabilidade e violência. A pesquisa Sem parar o trabalho e a vida das mulheres na pandemia registrou que 8,4% afirmaram ter sofrido alguma forma de violência durante o período de isolamento social.
Com o objetivo de unificar e fortalecer a luta das mulheres periféricas que sofrem com a violência doméstica, Bárbara Lima e Adriana Correia idealizaram o Coletivo Feminismo Comunitário.
Apoiada pela Fundação ABH e parceiros no Edital aTUAção PerifaSul, a iniciativa atua com mulheres moradoras do Real Parque e Jardim Panorama, comunidades localizadas na Periferia Sul de São Paulo, com o objetivo de estimular o autocuidado, a autoestima e a autonomia através da união e do compartilhamento de vivências entre mulheres periféricas.
“Fora dos tempos de pandemia, fazemos encontros com convidadas especialistas em algum tema específico, seja conhecimentos empíricos ou acadêmicos. Além das oficinas que são oferecidas para alinhar o corpo e mente com yoga e dança do ventre para o aflorar a sensualidade, autoestima e afeto com nossos corpos”, explicou Bárbara Lima, uma das idealizadoras do coletivo.
Ela ressalta que a união de mulheres periféricas na luta por direitos, novas jornadas e evoluções é essencial, pois a periferia sempre esteve à margem da sociedade e as mulheres periféricas levam suas famílias nas costas em triplas jornadas, pois seus companheiros estão perdidos, presos ou mortos por um Estado racista.
[gdlr_quote align=”center” ]“Sendo assim, precisamos dessa força entre as mulheres periféricas e muitas vezes essa força vem através do cuidado da nossa mente e corpo”, completou.[/gdlr_quote]
Desejamos a todas as mulheres do mundo todos os dias de respeito, amor e paz!