“O que me move é acreditar na potência do território”, diz Alan Benelli

Desde janeiro de 2023, quando a Fundação ABH anunciou a criação do FCP M’Boi (Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim), atualizamos nossos canais de comunicação sobre informações de todo esse processo que vem sendo realizado pelo Comitê Construtivo com o objetivo de fomentar iniciativas que atuam em prol do desenvolvimento comunitário da periferia sul de São Paulo.

No entanto, esse processo começou a partir da conexão que a Fundação ABH estabeleceu com as iniciativas, coletivos e atores sociais do território ao longo dos anos, muito antes do Comitê Construtivo se formar.

Dentre os agentes deste processo está Alan Benelli, mais conhecido como Alanshark. O músico e membro do Comitê Construtivo, representando a arte e a cultura com um olhar mais voltado para o Hip Hop, nos concedeu uma entrevista exclusiva, na qual nos contou como tem sido essa jornada até aqui, os desafios que enfrentou pelo caminho, o que o motiva a continuar, assim como suas perspectivas para o futuro desse trabalho em rede.

O começo da parceria com a Fundação ABH

Alan Benelli surgiu no radar da Fundação ABH em 2020, quando participou do edital aTUAção PerifaSul com o Coletivo Fora de Frequência, que visa fomentar e difundir o Hip Hop, do qual é co-fundador.

“A gente passou por um processo de formação ligado à elaboração de projetos, mapeamento de indicadores. Adquirimos novos conhecimentos e aprofundamos alguns que a gente tinha, o que colaborou para a ampliação da nossa visão e, consequentemente, na melhoria do nosso trabalho, ampliando a captação de recursos. A partir desses conhecimentos adquiridos, conseguimos melhorar nossos projetos”, disse ele.

O produtor cultural falou ainda sobre o impacto desse processo, realizado em conjunto com outros agentes da região, no desenvolvimento de sua própria iniciativa.

“Ganhamos confiança e começamos a enviar projetos para vários editais que a gente não enviava na época. Vários projetos vêm sendo contemplados ao longo dos anos, o que vem impactando positivamente os trabalhos que a gente desenvolve na ponta, tanto na organização de eventos, de formações, de produções audiovisuais, formações em escolas públicas, tudo o que a gente vem desenvolvendo. Então, a partir do momento que a gente encontra a Fundação ABH e o edital e passa pelas formações, juntamente com os processos que a gente vinha vivenciando, a gente consegue dar um upgrade nos nossos trabalhos”, contou

A construção do PerifaSul 2050

Alan Benelli destaca que esse vínculo com a Fundação ABH foi sendo construído aos poucos, “os trabalhos foram acontecendo, a gente foi criando, a parceria foi se aprofundando” e se estendeu quando “a ABH convidou o Fora de Frequência para participar da construção do PerifaSul 2050”.

Idealizado e coordenado pela Fundação ABH, com o apoio do IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), e co-construído ao lado de atores sociais da periferia sul de São Paulo, o movimento PerifaSul 2050 teve como objetivo discutir as prioridades da região até 2050 e construir um plano macro com ações que pudessem contribuir para o enfrentamento dos problemas socioambientais no território e com o desenvolvimento comunitário local.

Alan contou que, após aceitar o convite, foi conectado à Alânia Cerqueira, da Macambira Sociocultural, que já era parceira da Fundação ABH, para iniciar as articulações no território, indicando nomes que são referências na quebrada e que pudessem contribuir nessa construção coletiva da Mandala, que se tornaria o símbolo desse movimento.

“A construção da Mandala começou a partir de encontros virtuais, nos quais elencamos os principais temas e os subtemas, de acordo com a experiência e vivência de cada participante”, explicou ele.

Ao todo foram oito reuniões realizadas ao longo de 2021 para discutir o cenário e atuação social na região sul. A partir delas foram constituídos 3 grandes pilares da Mandala. São eles: Inclusão Produtiva, Desenvolvimento Comunitário e Vida Digna & Bem-estar.  

O nascimento do Comitê Construtivo

Em 2022, foi o momento de começar a transformar em realidade os sonhos compartilhados nas reuniões realizadas no ano anterior. Em julho, um grupo de 20 pessoas de diferentes temáticas, territórios e experiências fizeram uma imersão ao longo de um fim de semana para integrar membros do Comitê Construtivo, alinhar suas expectativas, trocar ideias e compartilhar conhecimento.

“A Fundação ABH nos convidou para discutir a construção de uma fundação comunitária, que é algo novo no Brasil. Nesse encontro, que teve a presença de agentes do território, incluindo pessoas que participaram do desenvolvimento do PerifaSul 2050, debatemos os princípios de uma fundação comunitária”, lembra Alan.

Alan explica que esses encontros foram fundamentais porque, a partir deles, a Fundação ABH pode reavaliar o propósito de todo esse processo, que resultou em uma nova iniciativa, o FCP M’Boi (Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi), realizado sobretudo pela ótica dos membros do Comitê Construtivo, com o objetivo de fomentar iniciativas que atuam em prol do desenvolvimento comunitário da periferia sul de São Paulo. Ele destaca a importância de ter feito e continuar fazendo parte disso:

“Fazer parte do Comitê Construtivo tem a ver um pouco com reconhecimento do trabalho que desenvolvo com o Coletivo Fora de Frequência. Fico feliz em fazer parte ao lado de várias referências e poder contribuir com os trabalhos do FCP M’Boi. Estar dentro desse processo, para a gente, está sendo muito importante, porque, apesar de já conhecermos a maioria das pessoas, nos conectamos ainda mais, estreitamos as relações de parceria e ampliamos os aprendizados. São pessoas experientes, que são referências na área em que atuam e toda reunião é um grande aprendizado”, declarou.

Quais os desafios dessa jornada?

Alan Benelli afirma que participar desse movimento trouxe para ele uma nova perspectiva sobre a atuação em rede no território: “A gente está acostumado a captar recursos para desenvolvermos nossas ações, mas no FCP M’Boi é o contrário, a gente capta recursos para investir em ações de outros grupos que vão executar ações que vão contribuir para o desenvolvimento do território”.

O membro do Comitê Construtivo, inclusive, aponta esse como um dos grandes desafios desta empreitada: “é se colocar como um fundo que vai investir, mas não vai executar a ação. Ter essa visão de investidor que não vai executar a ação na ponta foi e é ainda bem desafiador”.

Segundo Alan, outro desafio a ser superado é o de ampliar as parcerias, “tanto do outro lado da ponte quanto nas regiões em que a gente atua, para que os trabalhos fiquem mais robustos e a gente possa fomentar mais coletivos e ações para potencializar cada vez mais o território”.

Outro ponto crucial é lidar com o fator humano. Como dito anteriormente, interagir não foi um problema, já que o grupo se conhecia e se dava bem, porém, há situações que fogem do nosso controle e o coletivo precisa saber administrar, por exemplo, quando há a necessidade de que um dos membros se desligue do processo temporária ou permanentemente.

“As baixas dentro desses processos longos são normais, vão aparecendo empecilhos, as pessoas têm outros focos e fica difícil de acompanhar todos os processos em todos os lugares ou espaços que a gente gostaria. Para mim, é normal, mas é desafiador, porque o número de pessoas diminui, mas a gente sabe que os membros do Comitê Construtivo também são lideranças de outros projetos, que garantem a sustentabilidade financeira dessas pessoas, então é desafiador manter o foco nos trabalhos no fundo sem enfraquecer o coletivo do qual você faz parte, dedica sua energia, que tem um impacto relevante na quebrada e não pode largar de mão”, declarou Alan.

O produtor cultural conta que ele mesmo precisou se afastar dos trabalhos do Comitê Construtivo e do FCP M’Boi por cerca de um mês para se dedicar aos projetos do Coletivo Fora de Frequência.

“Foi em um período que havia muitos editais abertos e que eu precisava estar focado totalmente nisso porque eu que escrevo os projetos do coletivo e faço a captação de recursos. Então, precisei me afastar, mas, logo que passou essa correria, retomei o diálogo com a Fundação ABH para que eu pudesse voltar”, disse ele.

O que te move a ainda seguir nessa jornada?

Apesar dos altos e baixos que existem em todos os processos da existência humana, Alan Benelli explicou que quis retomar os trabalhos no FCP M’Boi, porque enxerga um grande potencial no projeto, que o motiva a seguir nessa jornada.

“O que me move é acreditar nas pessoas que estão envolvidas no projeto e acreditar nas potências do território também, nas potências que já são atuantes e nas possíveis potências que vão surgir. O FCP M’Boi crescendo, vai ser fundamental para potencializar os trabalhos de pessoas da comunidade, de organizações, de comércios, de coletivos, enfim, a grande gama de atores que são importantes para o desenvolvimento territorial, socioeconômico, cultural e educacional”, comentou o músico.

Quais suas expectativas para o futuro dessa iniciativa?

Alan Benelli reforça que suas expectativas para o FCP M’Boi são de que ele cresça e venha a se tornar independente, robusto e que possa contribuir de maneira eficaz, fomentando as ações, os grupos e coletivos do território e o desenvolvimento da região como um todo.

Além disso, o produtor cultural afirma que o FCP M’Boi vem despertando cada vez mais o interesse de outros agentes da quebrada e conta com exclusividade que o Comitê Construtivo está expandindo seu programa e, em breve, três novos membros serão incorporados no grupo. 

“São pessoas engajadas, de mentes férteis e que estão contribuindo para que as coisas aconteçam”, finalizou Alan.

A Fundação ABH segue acreditando no poder do trabalho em rede visando o desenvolvimento comunitário da periferia sul de São Paulo e o Comitê Construtivo é a prova vivo disso, reunindo parceiros que transportam suas vivências e atuação na região para essa iniciativa, que seguirá rendendo frutos, como o Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim.

Gostou do artigo de hoje e quer contribuir para o desenvolvimento da periferia sul de São Paulo? Então, fique ligado nos nossos canais de comunicação para acompanhar as próximas entrevistas desta série e ficar por dentro de todas as novidades sobre o FCP M’Boi, conhecer mais sobre o nosso território de atuação e os atores sociais que se dedicam a impulsioná-lo diariamente. Aproveite e apoie a Fundação ABH para possamos ampliar essa rede e gerar ainda mais impacto na periferia sul de São Paulo.

Ah, e se você tem uma iniciativa na periferia sul de São Paulo que trabalha para melhorar essas e outras questões da comunidade, faça seu cadastro no Mapa PerifaSul 2050! Vamos juntos mostrar para todos a potência que a periferia sul tem!