O FCP M’Boi (Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim) nasceu a partir do trabalho conjunto entre a Fundação ABH e líderes comunitários da periferia sul de São Paulo com objetivo de fomentar, estimular e dar visibilidade para a região, mais especificamente o subdistrito M’Boi Mirim, contribuindo para desenvolvimento comunitário local.
Todo esse processo, da construção ao lançamento, não seria possível sem a facilitação da Bemtevi, a parceria do nosso Comitê Construtivo e a consultoria promovida pelo Programa Transformando Territórios (TT), idealizado pelo IDIS (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), destinado a fortalecer o modelo de Fundações e Institutos Comunitários no Brasil (FICs).
No artigo de hoje, você acompanhará uma entrevista com Whilla Castelhano, que gerenciou o Programa Transformando Territórios (TT), para conhecermos mais sobre o programa, a potência do modelo de Fundações e Institutos Comunitários no Brasil, como eles estão se desenvolvendo e a importância do trabalho da Fundação ABH no desenvolvimento do FCP M’Boi.
O Programa Transformando Territórios
O Programa Transformando Territórios nasceu em 2020, fruto de estudo e parceria com a Charles Stewart Mott Foundation sobre o modelo de Fundações Comunitárias, que surgiu em 1902 em Cleveland, nos Estados Unidos, mas demorou a florescer no Brasil.
“No Brasil, até 2020, a gente tinha três Fundações Comunitárias: o ICOM (Instituto Comunitário Grande Florianópolis), o Instituto Comunitário Baixada Maranhense e o Tabôa Fortalecimento Comunitário. Enquanto, por exemplo, no Canadá tem mais de 300, nos Estados Unidos mais de 600, na Itália são mais de 10”, detalhou Whilla.
Ao longo de 2018 e 2019, o IDIS fez um estudo sobre as Fundações Comunitárias, resultando na criação do Programa Transformando Territórios, cujo objetivo é encontrar lideranças e organizações interessadas em operar nesse modelo, que foi adaptado para a realidade do Brasil, contou Whilla.
“O nome Fundações e Institutos Comunitários (FICs), por exemplo, já vem de uma adaptação do conceito, pois no Brasil a gente tem fundações, como a Fundação ABH, e associações como as outras organizações. A partir de 2020, a gente começou esse processo e as três organizações existentes antes do programa, o Baixada, o ICOM e o Tabôa, passaram a integrar o TT junto com outras 11 organizações, que vivenciaram um processo de fortalecimento”.
Dentre as organizações participantes estava a Fundação ABH, que contou com a expertise de especialistas para, em conjunto com o Comitê Construtivo, desenvolver o Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim, criado como uma forma permanente de arrecadar recursos e investimentos na periferia sul de São Paulo, visando impulsionar o desenvolvimento local.
Tendo o FCP M’Boi como exemplo, Whilla ressalta a importância das organizações olharem e reconhecerem a particularidade de cada território: “É muito diferente você fortalecer uma organização em São Paulo, como é o FCP M’Boi, e trabalhar com uma organização no Rio Grande do Sul ou em Alagoas, por exemplo. São prioridades, são demandas, são processos de trabalho completamente diferentes também”.
A ex-gerente do Programa Transformando Territórios destacou ainda que as organizações podem possuir modelos de nascimento diferentes.
“A gente tem organizações que surgem como fundações comunitárias, então são grupos de lideranças que se uniram para montar uma fundação ou um instituto comunitário em seu território. E temos também organizações que já eram intermediárias e trabalhavam como fóruns e federações, não executavam projetos, não trabalhavam com público-alvo, mas trabalhavam para representar o setor social de um determinado território”.
Qual a importância das Fundações Comunitárias no Brasil?
Segundo Whilla Castelhano, a FIC (Fundação ou Instituto Comunitário) tem um olhar macro sobre o território, onde as demandas são múltiplas como: educação, saúde e meio ambiente, e variam de território para território.
“A Fundação Comunitária tem um olhar que transpassa uma única causa ou um público-alvo. Quando a gente tem uma fundação, um instituto comunitário, essa organização consegue olhar múltiplas causas e organizações ao mesmo tempo. Então, ela consegue um resgate da história daquele território, a participação dos jovens nos processos de decisão, fomentar parcerias, redes entre organizações que, muitas vezes, trabalham com os mesmos beneficiários, mas olhares diferentes e não fazem nada em conjunto”, explicou a gestora.
Deste modo, continua Whilla, essas organizações começam a atuar em conjunto, fortalecendo o conhecimento para o setor social através da promoção de eventos, cursos e formações, além de ser uma nova fonte de captação de recursos para investir nas demandas do território identificadas pela FIC e atores locais.
“E qual é a beleza da Fundação Comunitária? Ela poder investir em uma mesma temática por diferentes frentes e, consequentemente, em diferentes iniciativas que vão receber esse recurso. Elas vão ter olhares diferentes sobre uma mesma problemática. Então, por exemplo, se uma fundação comunitária resolve trabalhar com contraturno escolar para crianças acima dos 16 anos, ela entende que há uma demanda ali e vai captar para financiá-la. Então, ela vai captar recursos para isso e vai abrir uma chamada para as iniciativas do seu território e falar: ‘Olha, quem quer trabalhar com esse tema?’ E uma organização de mulheres, de meninas, vai fazer uma proposta de balé, a outra vai fazer uma proposta de reciclagem, a outra vai trabalhar com empregabilidade, a outra vai querer trabalhar com curso de inglês. Então, dentro de uma mesma temática, de um mesmo olhar, você consegue beneficiar diferentes formas de atuação para endereçar essa demanda”, esclareceu a Whilla.
Quais desafios as Fundações Comunitárias enfrentam para se desenvolverem e atuarem no Brasil?
De acordo com Whilla Castelhano, uma das maiores dificuldades de uma FIC (Fundações e Institutos Comunitários) está na questão da compreensão e difusão do conceito, que gera muitas dúvidas para os doadores e setor.
“É um conceito novo, muitas pessoas não conhecem, muitas organizações entendem a fundação comunitária como mais um competidor de recursos, e não é. A fundação comunitária está ali para fortalecer, para trazer novos recursos, para olhar a parceria, para fomentar redes, para fomentar articulação com o poder público”, explica a gestora.
Por isso, segundo Whilla, as Fundações Comunitárias têm o grande desafio de comunicar o seu valor, pois, muitas vezes, os doadores ainda não reconhecem todo o potencial da organização.
“Comunicar o que é uma Fundação Comunitária, o que ela busca atender e captação de recursos com certeza são os principais desafios, porque é um modelo novo, é um modelo disruptivo, é um modelo que ainda está trazendo e mostrando seus resultados. Então, há muita desconfiança, há muita falta de conhecimento”, completa Whilla.
Qual a importância do trabalho da Fundação ABH para contribuir com o desenvolvimento desse modelo?
“A Fundação ABH é uma parceira do IDIS de longuíssima data, é uma parceira do Transformando Territórios desde o começo. A participação da Fundação ABH é extremamente relevante, primeiro, porque ela já traz no seu cerne, na sua essência, esse olhar para o território, esse olhar da construção em conjunto, esse olhar para a periferia como detentora do próprio conhecimento, da própria potência.
A Fundação ABH já traz ali no seu sangue muito do que a gente tenta promover através das FICs (Fundações e Institutos Comunitários). É uma fundação familiar que olha para isso, olha para essa temática, vê valor e traz na sua essência a temática de fortalecer territórios, de encontrarem no próprio local as suas potências e fortalezas para as demandas existentes, é muito importante. Então, para a gente, ter a Fundação ABH como uma patrocinadora do Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim, como uma parceira do programa para desenvolver esse modelo, é extremamente importante, pois mostra não só a potência que esse modelo tem no Brasil, mas também como ele pode congregar diferentes atores para fortalecer as fundações comunitárias.
Ter uma fundação familiar apoiando esse conceito é muito único, é muito raro, é um caso único até no mundo. Então, a gente ter esse olhar, esse apoio é extremamente importante para o modelo. O conhecimento da Fundação ABH sobre o território onde está atuando, junto com o FCP M’Boi, é muito relevante para que a gente conheça as potencialidades, as demandas e até mesmo como se relacionar com esses atores.
A gente percebe que, sempre ter um terceiro ator junto ao IDIS e junto à Fundação Comunitária, faz com que a organização caminhe mais rápido e entregue melhores resultados, porque são vários olhares para um mesmo território, são vários conhecimentos e várias formas de atuação para uma mesma demanda, então, tem sido muito enriquecedor esse processo com a Fundação ABH, a gente aprendeu muito, a gente tem trocado muito e com certeza o Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim não surgiria sem esse apoio da Fundação ABH”.
A Fundação ABH acredita na potência das FICs (Fundações ou Institutos Comunitários) como geradora de impacto social em um determinado território e está comprometida com a disseminação do conceito e o FCP M’Boi (Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim) é um dos muitos passos dados por nós em prol do desenvolvimento da periferia sul de São Paulo.
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