Muito se fala sobre o microempreendedor ou sobre o microempreendedorismo. Mas e o nanoempreendedorismo? Você já ouviu falar desta expressão ou sabe o significado dela? Não se engane: não tem a ver com nanotecnologia! Apenas o prefixo nano é o mesmo. 

Micro, na física e na matemática, quer dizer que alguma coisa foi multiplicada por 0,000 001; nano, por sua vez, significa que algo é 100 vezes menor, ou seja, multiplicado por 0,000 000 001. Este não é o caso dos negócios, mas a gente empresta o termo para dizer que um empreendimento é ainda menor que os micro-negócios.

 

O que é nanoempreendedorismo? 

Um nanoempreendimento é um negócio que usa a força de trabalho de menos de uma pessoa. Mas como isso é possível?

Este caso acontece quando uma pessoa se dedica menos que um dia inteiro para as atividades do negócio. Esta “modalidade” é absolutamente comum quando alguém empreende em meio a diversas outras atividades que realiza na vida – como acontece em meio a crises econômicas, por exemplo, ou enquanto são realizados testes para se certificar de que a ideia do negócio é válida ou não. 

E como é possível um negócio se sustentar com menos de uma pessoa trabalhando para ele? Dois fatores principais nos ajudam entender por quê o nanoempreendedorismo passou a ser cada vez mais comum: 

1. Maior acesso à tecnologia e automação de processos

Hoje em dia, gasta-se menos tempo com atividades como idas ao banco e criação de peças de comunicação, por exemplo, do que no passado. Isso aumenta a possibilidade de dedicação ao negócio. 

2. Flexibilidade e condições legais

A criação dos MEIs (Microempreendedores Individuais) e a flexibilidade nos modelos de contratação de prestadores de serviço e/ou de vendas de produtos de maneira legalizada, possibilitaram que mais pessoas vissem no empreendedorismo uma possibilidade de geração extra de renda ou, muitas vezes, a principal via. 

 

O nanoempreendedorismo na periferia sul de São Paulo

Não só a periferia sul de São Paulo, mas todo o Brasil vive o fenômeno de um boom de nanoempreendedores. Em 2020, o Portal do Empreendedor registrou 985.891 novos cadastros de Microempreendedor Individual (MEI) entre março e setembro. Isso representa um aumento de 11,2% em comparação a 2019. Dentro desse contexto, a zona sul da capital paulista abarca 30% dos microempreendedores individuais de toda a capital.

Em estudo realizado sobre empreendedorismo da periferia de São Paulo, 39% dos negócios mapeados eram compostos apenas por uma pessoa, os chamados “eupreendedores”, sendo 61% deles conduzidos por mulheres.

No cenário da pandemia, que se arrasta desde 2020 até aqui e que trouxe impactos para todos os tipos de empreendedores, os nanoempreendedores também são muito afetados. O Global Entrepreneurship Monitor (GEM) afirma que a falta de oportunidades de trabalho formal foi o principal fator que motivou mulheres e negros a abrirem o próprio negócio. Os empreendedores das periferias são, em média, os empreendedores por necessidade e não por oportunidade. Aquele que vende hoje, para pagar as contas de amanhã.

Com a projeção das taxas de desemprego aumentando, o crescimento do nanoempreendedorismo é esperado. Luis Coelho, da EmpreendeAí, atua com a capacitação de empreendedores da periferia de São Paulo e começou suas atividades na região sul da cidade. Em entrevista ao Estadão, ele fala da presença de soluções digitais dentro desse cenário. “Para muitos empreendedores da periferia, digitalizar-se é conseguir usar muito bem o WhatsApp. É conseguir utilizar uma rede social para interagir com seus clientes. É uma forma simples sem criar estruturas complexas”, explica Luís, caracterizando bem o nanoempreendedorismo. 

 

Como o estabelecimento de redes ajudam o nanoempreendedorismo a florescer

No estudo mencionado acima, os empreendedores pesquisados também citam a importância de participar de grupos, programas e redes nas quais eles recebam apoio emocional, intelectual e financeiro para seguirem com suas atividades.

Ao participarem de redes de apoio, eles colaboram entre si para passar pelos principais desafios, que são:

Com os desafios surgem também iniciativas que visam superá-los e servem como base para um desenvolvimento mais sólido desses empreendimentos. Abaixo, listamos cinco redes que você precisa conhecer:

 

Quem são as redes de nanoempreendedorismo na periferia sul de São Paulo

 

Rede São Luís

A Rede São Luís é formada por organizações, coletivos e associações que promovem o empreendedorismo periférico com base na economia criativa e solidária.

O movimento é fruto de um acompanhamento feito pela Fundação Via Varejo, que resultou na compra de maquinários e materiais para estampar camisetas e de uma Kombi grafitada e equipada com som, que funciona como uma loja ambulante para vender os produtos dos empreendimentos da rede.

Dentro da rede existem diferentes grupos, coletivos, instituições e grupos produtivos que utilizam recursos diversificados para estabelecer uma cadeia produtiva justa e socialmente responsável, gerando oportunidades de trabalho e renda para empreendimentos do distrito do Jardim São Luís. 

Nanoempreendedores como artesãos, comunicadores, comercializadores, estampadores, produtos de serviços socioculturais e educadores integram a rede e são, ao mesmo tempo, produtores e consumidores entre si, estimulando que a riqueza local circule. 

 

Teia Parelheiros

As Teias são coworkings públicos promovidos pela ADESAMPA – Agência São Paulo de Desenvolvimento, vinculada à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho da Prefeitura de São Paulo e incentivam o empreendedorismo local onde estão inseridos.

O desenvolvimento dos negócios e a construção de redes de empreendedores locais nos espaços públicos da cidade de São Paulo são o motor de atuação da iniciativa. Hoje, há sete unidades na cidade, sendo quatro delas na região sul da cidade: Santo Amaro, Jardim Edite, Heliópolis e Parelheiros. As outras três estão localizadas no Centro, em Taipas e na Cidade Tiradentes. 

A Teia Parelheiros atua especialmente no apoio a empreendedores que atuam na região sul da cidade, incentivando ações conjuntas entre eles de modo a fomentar a geração de renda, realizando também atividades de qualificação, desenvolvendo assim as redes locais de empreendedores. 

Um dos programas que desenvolve é o Ligue os Pontos que, dentre diversas ações, tem conectado empreendedores envolvidos nas atividades rurais de toda a região sul. 

A Teia Parelheiros tem unido os empreendedores do ecoturismo, meio ambiente, de restaurantes, da agroecologia, da segurança alimentar e do campo da cidadania em atividades formativas, de trocas de experiências, de networking, de vídeo-aulas, leituras de textos e podcasts.

Lives como as que Tia Nice do Restaurante Organicamente Rango pertencente ao roteiro gastronômico da zona sul e Leila Matajs, diretora do Instituto Pedro Matajs que atua com o desenvolvimento da agricultura orgânica na região sul da cidade, atraem outros empreendedores ainda menores, como a Silvana, do Universo dos Sabores que é nanoempreendedora e integra a rede da Teia Parelheiros.

 

Base Colaborativa – Capão

A Base Colaborativa é uma organização sem fins lucrativos que busca, de forma coletiva, inovadora e acolhedora, despertar consciência coletiva e influenciar de forma positiva o desenvolvimento do país.

A Base Capão, localizada no Capão Redondo, tem um modelo rico de construção de redes que foge um pouco dos padrões convencionais. Hoje acolhe 10 empreendedores sociais que podem trabalhar na sede da Base Capão e é neste espaço onde se criam vínculos. 

André, gestor da Base Capão, não acredita que um coworking é obrigatoriamente uma rede. No entanto, na Base Capão, há processos de conexão e vínculo que, por sua vez, geram confiança possibilitando que os agentes participem das construções de maneira coletiva. E isso, nas palavras dele, pode ser chamado de rede – com ou sem um espaço físico.

A Base, segundo o atual gestor, é um espaço onde o empreendedor tem uma estrutura mínima para poder produzir e se sentir seguro. O empreendedor neste espaço sabe que ali é onde ele vai construir e encontrar acolhimento tanto no que se refere às parcerias como sobre trocas de conhecimentos.

 

ANIP

A rede formada pela Articuladora de Negócios de Impacto da Periferia, nascida no Jardim Ângela, apoia uma nova geração de negócios de impacto social que surge e atua nas periferias de São Paulo.

A iniciativa nasceu da crença de que o empreendedorismo com propósito somente será efetivo se a população das periferias for protagonista na criação de empresas que solucionem os problemas sociais e ambientais da quebrada.

Por meio de diversas ações, a iniciativa apoia e conecta empreendedoras e empreendedores das periferias em estágios diferentes de desenvolvimento dos seus negócios. Por meio do Lab NIP, os empreendedores apoiados passam pelo processo de conscientização sobre a importância de vestir esse chapéu e percebem que o “simples” fato de empreenderem na periferia já gera impacto e cria laços entre eles.

 

[gdlr_quote align=”center” ]“É preciso fortalecer iniciativas que já existem e que são dos territórios porque elas já trabalham com o público que é a base da pirâmide”, diz Bola, um dos fundadores da ANIP, que complementa: “A gente não tem moral de errar. Se a gente errar, vai para onde? Não temos fluxo financeiro que garanta a possibilidade do erro.”[/gdlr_quote]

 

Uma das ações para apoiar empreendedores da sua rede e também para apoiar o empreendedorismo periférico foi uma ação conjunta com o Banco Pérola. Instituiu-se o Fundo Volta por Cima para apoiar empreendedores e empreendedoras de impacto que atuam nas regiões de maior vulnerabilidade social. 

Todos os contemplados pelo Fundo recebem acompanhamento e conteúdos formativos como forma de apoio complementar a seus negócios.

Alguns empreendedores da Zona Sul de São Paulo que foram contemplados no Fundo e participam desta rede mobilizada pela ANIP: 

 

Rede Nóis por Nóis

Criada no Grajaú em 2016, por Bárbara Terra e Lorena Carvalho, a Rede Nóis por Nóis é uma rede de apoio à economia periférica liderada por mulheres negras e moradoras da região que acreditam no desenvolvimento social através da cultura, economia criativa e sustentabilidade.

Lá em 2016, organizaram uma feira de empreendedorismo como meio de incentivar o consumo de produtores locais. “Há 40 anos, as pessoas saíam do bairro para consumir no centro, depois passaram a ir para Santo Amaro e agora consomem aqui dentro.”, diz Bárbara em entrevista para o Estadão. (Fonte: Estadão)

Atuando na geração de renda e colaboração mútua, a rede vem desenvolvendo ações fundamentais durante a crise do coronavírus como a disseminação de informação sobre prevenção ao contágio, desenvolvimento de atividade de capacitação para mulheres negras visando a geração de ideias inovadoras durante este momento de emergência, dentre outras ações.

A Rede Nóis por Nóis já mobilizou diversas atividades socioculturais articulando e colaborando na promoção da autonomia dos empreendedores que estão conectados à rede. Ao longo de 5 anos, aconteceram oito festivais culturais com feiras populares temáticas e itinerantes que proporcionaram à população do Grajaú cultura, lazer, renda familiar e valorização do território, reunindo cerca de duzentos empreendedores periféricos, quase 7.000 frequentadores, sendo a maioria mulheres negras. As feiras giram a economia local e criam novas possibilidades de integração entre os empreendedores, conectando os empreendedores da periferia ao território onde vivem. 

 

Além das feiras de empreendedores locais, para os participantes da rede, a Rede Nóis por Nóis promove: 

 

A manutenção destas atividades e a importância da conexão entre os empreendedores da Rede Nóis por Nóis leva:

 

Para saber mais sobre iniciativas que promovem o estabelecimento de redes na zona sul de São Paulo, continue acompanhando nossos canais.

Até o próximo post!

Uma resposta

  1. Eu gostaria muito de participar, não tenho muita abilidade com tecnologia, também não sei como fazer meu emprendimento crescer.