Em janeiro de 2023, a Fundação ABH anunciou a criação do FCP M’Boi (Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim), que está sendo desenvolvido pelo Comitê Construtivo para fomentar iniciativas, estimular o desenvolvimento comunitário e dar visibilidade à periferia sul de São Paulo.

Dois meses depois, os trabalhos de construção das bases do FCP M’Boi seguem a todo o vapor. Alânia Cerqueira, da Macambira Sociocultural, e Sidinéia Chagas, do Perifeminas, uniram suas experiências e assumiram a gestão desta iniciativa que é inédita, não apenas no território, mas no país. 

Neste artigo, Alânia e Sidinéia, que também fazem parte do Comitê Construtivo, falam sobre os desafios de gerir este projeto de forma compartilhada, bem como as expectativas, novidades, metas e planos para o futuro do FCP M’Boi.

O que significa para vocês assumirem a gestão de um negócio pioneiro?

Apesar de terem longa experiência com gestão de negócios e pessoas, Alânia Cerqueira e Sidinéia Chagas descrevem como desafiador o processo de gerir, de forma compartilhada, um fundo comunitário na periferia sul de São Paulo.

Alânia: “Tem componentes, métodos e processos que são do mercado corporativo e a gente precisa se adaptar, porque não compõem os nossos fazeres comumente nas periferias e nos projetos que a gente desenvolve. Então, isso convida a pesquisa, ao diálogo, ao compartilhamento, ir, entender, estudar, pesquisar, criar percepções e compartilhar. Isso é o que pode gerar um processo, consolidar, validar formas de se fazer nesse território”

Sidinéia:Atualmente, assumir esse papel tem me desafiado a acreditar no meu potencial e contribuir com a experiência que tenho com a gestão de projetos e de pessoas há 15 anos. É algo inovador, afinal, também estou representando o comitê construtivo. A minha trajetória profissional me fez acreditar que seria possível estar em uma posição que me desse conforto e clareza sobre meus objetivos.”

Qual a importância de gerir o FCP M’Boi de forma compartilhada?

Tanto Alânia quanto Sidinéia concordam que gerir um negócio pioneiro como o FCP M’Boi (Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim) de forma compartilhada é embarcar em uma jornada em que tudo é novo e diferente dos processos com os quais estão acostumadas. 

Alânia: “Um aspecto que é muito importante e que a gente tá entendendo e construindo essa gestão compartilhada. A gente tá começando, é algo que foi proposto e a gente tá vendo como é que isso funciona, como isso é possível, como isso é realmente inserido e realizado. É um grande desafio que vai requerer muitas idas e vindas, muitos diálogos”.

Sidinéia: “Gerir o FCP M´Boi de forma compartilhada ajudará no alcance dos objetivos, além de contribuir no nosso desempenho, nas atribuições das funções e na inovação das ideias favorecendo todo o processo construído. Conforme o livro Expedição Leituras: Tesouros das bibliotecas comunitárias no Brasil, “a gestão compartilhada exige um grande esforço, um movimento contracorrente, que demanda mecanismos democráticos de transparência e de participação efetiva de todos”. Portanto, teremos como gestoras um papel importante e de trabalho horizontal.”

Quais os desafios, tanto de gerir esse projeto pioneiro, quanto para gerir de forma compartilhada?

Além de lidar com as novidades que se apresentaram ao longo dessa jornada, Alânia e Sidinéia destacaram outros pontos fundamentais para a efetividade da gestão compartilhada que está sendo proposta.

Alânia: “Eu penso, de maneira inicial, que os espaços de diálogo internos, do comitê, da gestão, da captação, que tem uma forma diferente de captação, a forma de se apresentar como fundo comunitário tem suas características peculiares. Então, poder trazer isso para dentro de todos os membros e isso estar de forma horizontal para se apresentar, dialogar, construir esses conceitos, essas nuances do fundo comunitário, é um desafio grande.

Não se encastelar, porque quando a gente tem um desafio, a gente tende a se interiorizar para resolver e depois dialogar com o externo, e aqui o externo eu me refiro a todo o território, a toda a comunidade, os demais coletivos, atores e instituições do território do M’Boi Mirim. Então, é importante e necessário manter os canais de diálogo com a comunidade e o território até para a gente poder validar o que a gente está construindo.

Além disso, é fundamental construir esse diálogo com doadores e investidores para uma iniciativa perene, um olhar, uma perspectiva de longo prazo, isso é uma coisa muito nova, esse é o principal diferencial do fundo.”

Sidinéia: “Estamos em contínuo processo de aprendizagem e caberá a cada gestora compreender a forma de liderar. Mesmo que a gestão compartilhada seja um modelo usado em outros ambientes, é inovador para nós que estamos iniciando um trabalho juntas. E será preciso estarmos atentas à escuta e a dar importância a cada um que venha querer contribuir. Não podemos nos fechar em uma caixinha e não estarmos abertas às mudanças constantes e, por vezes, mudar nossa forma de direcionar as demandas.”

Do ponto de vista da equipe de gestão, quais as metas iniciais para o FCP M’Boi? 

Alânia Cerqueira e Sidinéia Chagas destacam os planos iniciais da gestão do FCP M’Boi (Fundo Comunitário PerifaSul M’Boi Mirim) e quais as movimentações tanto a equipe quanto o Comitê Construtivo e o Conselho da Fundação ABH já estão realizando para viabilizar esse proposta pioneira na periferia sul de São Paulo.

Alânia: “Criar uma forma de se lidar com o que a gente tem que organizar. Criar processos que sejam adequados para essa estrutura de gestão, que mantém um diálogo com o comitê, que decide, que traz e acompanha todos os fazeres, esse diálogo com o território, com os diferentes atores, grupos, coletivos e instituições, além de construir e identificar o perfil desses doadores e investidores dentro e fora do território.

Construindo essa gestão que vai dar as diretrizes norteadoras para essa governança, temos como propósito realizar um edital junto ao território. Identificar o potencial investidor, doador do território, apresentar o FCP para eles e criar um relacionamento. O relacionamento desses diferentes atores que compõem o fundo é a nossa meta inicial.”

Sidinéia: “As metas iniciais são colaborar para que o fundo alcance seu objetivo, que é a realização do edital com o intuito de fomentar 10 iniciativas no território do M’Boi Mirim, contudo no mesmo processo mobilizar uma rede de possíveis investidores que apoiem financeiramente o FCP M’Boi.

Atualmente a gestão e comunicação têm se reunido semanalmente para produzir, avaliar documentos e materiais de trabalho. Nosso regimento interno, que de fato destaca a transparência do grupo, teve a contribuição dos membros e passará pela avaliação do Conselho da Fundação ABH. Também foi realizada a primeira reunião com o comitê ampliado, a fim de compreender qual o real interesse dos membros que participaram da imersão em maio de 2022.”

Ficou curioso para acompanhar os próximos passos e ações do FCP M’Boi?

Então, fique ligado em todos os nossos canais de comunicação, pois em breve postaremos mais novidades sobre esse processo e quem faz parte dele!

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