A Fundação ABH atua em prol do desenvolvimento comunitário da periferia sul de São Paulo e entendemos que, para transformar, precisamos olhar e destacar fatores que vão além das coisas positivas que existem e acontecem no território.

Os resultados do Mapa da Desigualdade 2023 refletem esse pensamento em números. Isso porque o levantamento, que avaliou o desempenho dos 96 distritos do município com base em indicadores específicos associados à administração pública, constatou que cinco bairros da região sul da capital paulista estão entre as 10 piores pontuações do ranking geral: Campo Limpo (87º), Grajaú (88º), Jardim Ângela (90º), Cidade Ademar (95º) e Capão Redondo (96º).

Os dados representam uma queda expressiva para o Campo Limpo, Grajaú, Cidade Ademar e Capão Redondo em comparação ao Mapa da Desigualdade 2022, que estabeleceu o ranking de desempenho com base no número de menções e nenhum dos quatro esteve entre os 10 piores bairros identificados pela pesquisa. Já o Jardim Ângela se manteve entre as avaliações negativas em ambos os estudos.

O Mapa da Desigualdade 2023 analisa 45 indicadores divididos em 12 áreas temáticas: mobilidade, habitação, infraestrutura digital, saúde, cultura, educação, esporte, direitos humanos, segurança pública, meio ambiente, trabalho & renda.

Este instrumento, elaborado a partir de dados estatísticos recentes, oferece uma visão clara e abrangente das condições socioeconômicas, evidenciando os desafios que as comunidades enfrentam em sua busca por equidade.

No artigo de hoje vamos compreender quais são os pontos mais preocupantes dos bairros da periferia sul de São Paulo com os piores índices de desempenho.

Campo Limpo

Entre as 96 posições do ranking de desempenho dos distritos de São Paulo, o distrito do Campo Limpo ocupa a 87º, com média de 57,58 pontos, o que representa uma queda expressiva, já que  sendo que os pontos mais preocupantes são: habitação, trabalho e renda, infraestrutura digital e educação.

Habitação

Na análise sobre moradias, o ponto de maior destaque é que 21,42% dos domicílios do Campo Limpo estão localizados em favelas, o que coloca o distrito na 83ª posição (de 97) do ranking geral de habitação.

Trabalho & Renda

No quesito trabalho e renda, o Campo Limpo também aparece em posições ruins, especificamente nos rankings referentes a remuneração média mensal do emprego formal e ofertas de emprego formal na região.

No primeiro quesito, a remuneração média mensal de emprego formal na região é correspondente a R$ 2.503,43. Apesar de parecer um valor alto, no comparativo com os demais bairros, o Campo Limpo aparece na 85ª posição.

Já a oferta de emprego formal possui um dos piores valores da tabela, um total de uma oferta para cada 10 mil habitantes entre a população em idade ativa (PIA), mas este não é o único distrito a registrar baixos índices neste quesito.

Grajaú

Na 88ª colocação no ranking geral de desempenho dos distritos da cidade de São Paulo, o Grajaú ocupa uma posição abaixo do Campo Limpo, sendo que seus três piores índices são referentes à infraestrutura digital, trabalho e renda.

Infraestrutura Digital

No indicador de infraestrutura digital, o Grajaú ocupa uma das últimas posições no ranking quando o assunto é acesso à internet móvel. Quando mensura-se a distribuição de antenas de internet móvel a cada dez mil habitantes, por distrito, esse bairro da perifasul de São Paulo aparece em 81º lugar, com média de 2,1 antenas.

Já quando analisamos o acesso à internet móvel por área/km² essa média cai para 0,9, fazendo com que o Grajaú caia para a 92ª posição do ranking geral.

Trabalho & Renda

O Grajaú também apresenta uma das menores taxas de oferta de emprego formal, por dez habitantes participantes da população em idade ativa (0,54), ocupando assim a 91ª posição no ranking geral.

Jardim Ângela 

O Jardim Ângela, que já esteve entre os distritos que formavam o chamado triângulo da morte devido aos altos índices de violência na década de 1990, também apresenta índices negativos no quesito trabalho e renda, infraestrutura digital e saúde, ocupando a 90ª posição no ranking geral de desempenho.

Trabalho & Renda

A taxa de oferta de emprego formal, por dez habitantes participantes da população em idade ativa, no Jardim Ângela é uma das menores da cidade de São Paulo (0,51), ocupando assim a 92ª posição no ranking geral.

Infraestrutura Digital

A infraestrutura digital do Jardim Ângela está entre as piores do município. Quando o assunto é acesso à internet móvel, o bairro aparece na 86ª posição, com média de 1,6 antenas distribuídas por área (km²) dos distritos.

Saúde

O Jardim Ângela apresentou um dado alarmante dentre as subtemáticas avaliadas no indicador saúde, especificamente nos quesitos gravidez na adolescência e mortalidade infantil.

O bairro ocupa a 87ª posição no ranking geral quando o assunto é gravidez na adolescência, registrando que 10,2% dos nascidos vivos da região provém de parturientes com menos de 20 anos. Já o coeficiente de mortalidade infantil (menores de 1 ano de idade) do Jardim Ângela é de 15,5 óbitos para cada mil crianças nascidas vivas no distrito.

Cidade Ademar

O distrito de Cidade Ademar é o segundo pior no ranking geral dos distritos de São Paulo, ocupando a 95ª posição e ficando à frente apenas do Capão Redondo (96º). A região apresenta índices negativos nos indicadores de meio ambiente, mobilidade e habitação.

Meio Ambiente

O indicador de meio ambiente é dividido em quatro subtemáticas: Pontos de Entrega Voluntária (PEV), número de áreas contaminadas, emissão de poluentes atmosféricos por área (kg/km²/dia) e cobertura vegetal, sendo os dois últimos os indicadores com pior desempenho.

A Cidade Ademar ocupa a 91ª posição do ranking de cobertura vegetal do município, com apenas 10,15% de áreas verdes.

O segundo indicador analisa a emissão de material particulado associado às viagens de ônibus, gerado por combustão e por desgaste de pneus, freios e pistas (kg), sobre área do distrito paulistano onde a emissão ocorreu (km²), para um dia útil típico do ano de 2022. Nesse ponto, o bairro registrou um dos piores valores do município (0,41), aparecendo no 76º lugar do ranking geral.

Mobilidade

Assim como nos distritos citados anteriormente, a Cidade Ademar apresenta índices negativos quando assunto é a velocidade média (km/h) dos ônibus que circulam na região, que apresenta o índice de 17,01 km/h, ocupando a 87ª posição no ranking geral sobre a temática em questão.

Habitação

A Cidade Ademar registra que 14,57% das moradias do distrito estão localizadas em favelas, ocupando a 72ª posição do ranking geral do município.

Capão Redondo

O Capão Redondo se junta aos distritos do Campo Limpo e Jardim Ângela, que ficaram conhecidos como triângulo da morte, entre os 10 bairros com piores desempenhos do município, ocupando o último lugar no ranking geral (96º), sendo trabalho e renda e habitação os pontos mais preocupantes.

Trabalho & Renda

No Capão Redondo, a remuneração média do emprego formal e a oferta de emprego formal ocupam baixas posições nos respectivos rankings. No primeiro, a região apresenta o valor de R$ 2.471,70, ocupando a 87ª posição. Já quando o assunto é oferta de emprego, o coeficiente registrado pelo distrito é de 0,59, aparecendo em 90º lugar.

Habitação

No Capão Redondo, o dado mais impactante sobre habitação diz respeito às moradias em favelas, onde se concentram 20,77% das casas do distrito, ocupando a 82ª posição do ranking geral.

Vila Andrade

Apesar de não estar entre os 10 piores distritos no ranking do desempenho geral, o distrito da Vila Andrade, que está na periferia sul de São Paulo, apresenta dados alarmantes quando o assunto é habitação e educação.

Habitação

A Vila Andrade registra o maior índice de moradias localizadas em favelas dentre todos os distritos da capital paulista, com 35,35%. 

Educação

O bairro possui a maior taxa de abandono escolar no ensino fundamental da rede municipal, com 3,1%.

Mapa da Desigualdade 2022

O Mapa da Desigualdade 2022 foi o último a ser desenvolvido no formato anterior, que mensurava os distritos da cidade de São Paulo analisando os indicadores, mas sem a existência de ranking destacando os melhores e piores, neste caso eram citados apenas o pior e o melhor em cada categoria.

Ao final, foi divulgada uma tabela com os distritos que mais vezes apareceram entre os melhores e os piores considerando cada tema analisado. Dentre os bairros citados neste texto, somente o Jardim Ângela apareceu entre os que tiveram mais menções negativas, 14 dentre 50 indicadores. Campo Limpo, Capão Redondo e Grajaú não estiveram entre os destaques positivos nem negativos.

Entretanto, outros distritos da periferia sul de São Paulo, estiveram entre as piores avaliações. Marsilac ficou no topo da lista, com 17 menções negativas, Parelheiros, 13, Socorro e Santo Amaro, 10 cada.

Identificar os problemas da periferia sul de São Paulo é um dos primeiros passos para trabalhar em busca de melhorias e transformações. A Fundação ABH trabalha em conexão com os atores locais e moradores da região para impulsionar o desenvolvimento comunitário local.

Através do PerifaSul 2050, por exemplo, ouvimos quem vive no território para identificar as principais questões sociais que merecem destaque até 2050, a partir daí foram definidos três temas principais que abrangem as preocupações dos moradores da região: Inclusão Produtiva, Desenvolvimento Comunitário e Vida Digna e Bem-Estar.

A partir destas categorias foram determinadas subtemas de interesse coletivo, incluindo vários tópicos analisados no Mapa da Desigualdade 2023 como: moradia, arte, cultura, saúde, redução da violência, mobilidade urbana, entre outros.

A partir desse levantamento, nos conectamos ainda mais com o território e com iniciativas locais que atuam em prol desses temas.

Habitação

O fato de grande parte das habitações estarem localizadas em favelas pode ter diversos impactos na vida da população local. É importante considerar que as favelas muitas vezes enfrentam diversos desafios relacionados, como:

A Nova Vivenda atua com a temática moradia, ajudando pessoas de baixa renda a construir ou reformar suas casas a um custo muito baixo e com possibilidade de parcelamentos.

Mobilidade Urbana

Mobilidade urbana é um grande desafio que periferia sul de São Paulo vem enfrentando a passos largos, seja no alto tempo de deslocamento dos ônibus da região para o centro e vice e versa, no acesso precário ao transporte de massa, entre outros fatores, que causam impactos significativos na vida da população local, como:

A periferia sul de São Paulo ainda conta com poucas iniciativas que têm como foco a mobilidade urbana. No entanto, destacamos as seguintes:

O movimento SOS Transportes M’Boi Mirim, criado em 2009 na região do Jardim Ângela, luta por melhorias no transporte público local. Através de seus canais de comunicação, a iniciativa compartilha a situação das vias e transportes da região, bem como realiza ações para cobrar providências das autoridades.

Meio Ambiente

A emissão de poluentes, área de cobertura vegetal, os Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) e o controle das áreas contaminadas são os principais pontos avaliados pelo Mapa da Desigualdade 2023 considerados essenciais para preservar o meio ambiente e melhorar a qualidade de vida na periferia sul de São Paulo. 

Apesar de alguns bairros do território terem avaliações negativas em aspectos ambientais, grande parte do território é engajado no tema. A periferia sul paulista é a região com maior cobertura verde do município, com isso aparece entre os distritos que menos poluem a cidade, porém há ainda questões a serem melhoradas e ampliadas nestes e em outros fatores. 

Por isso, destacamos a seguir algumas iniciativas que atuam em prol do meio ambiente na periferia sul de São Paulo em diversas perspectivas, como produção de alimentos orgânicos, preservação ambiental, permacultura, reciclagem, entre outros:

Quebrada Orgânica: iniciativa que promove novos hábitos de consumo e práticas sustentáveis na zona sul de São Paulo através da compostagem de resíduos, criação de hortas em espaços públicos, além de outras ações artístico-culturais que conscientizem a população sobre essa temática, como Festival Quebrada Orgânica.

Capão Cidadão: cultiva uma horta comunitária que é utilizada para educação ambiental de crianças e adolescentes do Capão Redondo e região.

Nossa Fazenda: desenvolve projetos de horta orgânica, permacultura e cozinha saudável, com alternativas vegetariana e vegana, além de estruturas sustentáveis, como fossa biodigestora, filtro biológico de águas cinzas e sistema de compostagem.

Recicla Jeans: projeto de sustentabilidade desenvolvido na ONG Florescer em Paraisópolis, no qual mães e jovens reciclam sobras de jeans transformando-as em bichos de pelúcia e novas peças de roupa.

Megê Design Sustentável: desenvolve projetos de bioarquitetura, urbanismo socioambiental, manejo ecológico de águas servidas, intercâmbio multicultural e cursos de capacitação técnica, favorecendo o protagonismo socioambiental e sociocultural da população.

Instituto Favela da Paz: além de arte, cultura, espiritualidade e bem estar, a iniciativa desenvolve projetos voltados à sustentabilidade, como o “Periferia Sustentável”, que que tem como objetivo disseminar conhecimento sobre energias renováveis e permacultura urbana na periferia sul de São Paulo, que tem como exemplos a criação de uma cisterna de captação água da chuva e a instalação de um sistema de biogás na sede do instituto.

A iniciativa desenvolve ainda o projeto “Vegearte”, cujo foco principal é pensar a gastronomia vegetariana como elemento educacional, criando uma nova cultura no processo de alimentação, discutindo a culinária sustentável como elemento cultural e artístico.

Talentos do Capão: estimula a educação de jovens de família de baixa renda do bairro do Capão Redondo, que participam de competições nacionais e internacionais e para custear as inscrições e viagens fazem bazares e juntam recicláveis, como latinhas e garrafas pet.

Saúde

O acesso aos cuidados com a saúde ainda é muito limitado no SUS (Sistema Único de Saúde), especialmente saúde mental, que prioriza atender casos mais graves e grande parte da população local não tem recursos financeiros para pagar um atendimento particular.

Além disso, há ainda questões de preocupação mundial como alimentação saudável que beneficia não somente o meio ambiente, mas também a saúde física da população.

Pensando nisso, algumas iniciativas da periferia sul de São Paulo oferecem serviços de atendimento focado em saúde mental, desenvolvimento humano, parto humanizado e até alimentação saudável. Conheça algumas delas:

Instituto Projeto Sonhar: a iniciativa trabalha auxiliando famílias em situação de vulnerabilidade na região do Capão Redondo, realizando diversas ações, dentre elas um programa voltado aos cuidados com a saúde mental das famílias assistidas;

União Akasha: é um centro de desenvolvimento humano focado em métodos terapêuticos para diversos transtornos através das artes e cultura;

Associação Comunitária Monte Azul: atua em três favelas da zona sul de São Paulo, dentre elas duas localizadas nos bairros Horizonte Azul e Vera Cruz, ambos pertencentes ao distrito do Jd. Ângela, desenvolvendo programas e projetos nas áreas da educação, serviço social, oficinas de educação social, saúde, cultura e ambiente, com o intuito de oferecer uma oportunidade para os moradores da região de se desenvolverem de forma saudável. Na área da saúde, a iniciativa desenvolveu o ambulatório médico terapêutico que proporciona o acesso da população de baixa renda ao atendimento e aos recursos médico-terapêuticos da medicina antroposófica.

Casa Angela: é um centro de parto humanizado pioneiro no país que atende pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Organicamente Rango: iniciativa derivada da Cozinha Criativa Solano Trindade, fundada pela Agência Solano Trindade, que tem como objetivo fornecer refeições produzidas de forma sustentável para suprir a demanda do direito à alimentação sem veneno na mesa.

Lu Recicla Alimentos é um projeto focado em reaproveitamento de alimentos, alimentação sem veneno, saudável e sem desperdício.

Casa do Meio do Caminho: iniciativa do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (Ibeac), em parceria com o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), que oferece acolhimento, ações de cuidados, apoio, afeto e respeito para gestantes e mulheres em puerpério da região de Parelheiros.

Se você tem uma iniciativa na periferia sul de São Paulo que desenvolve projetos para melhorar essas e outras questões da comunidade, faça seu cadastro no Mapa PerifaSul 2050! Vamos juntos mostrar para todos a potência que a periferia sul tem!

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