O artigo quatro da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência diz que “toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades como as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”, porém, infelizmente, sabemos que a aceitação não é a realidade de muitos deles.
Ainda que o avanço das tecnologias de informação e comunicação tenha ampliado o acesso à informação e que diversas instituições se mobilizem em prol dessa causa, parte da população não compreende que o corpo deficiente não precisa de abrigos, hospitais ou piedade, mas sim de acolhimento e oportunidades.
Nesse texto, vamos falar sobre as potencialidades da pessoa com deficiência, a importância de práticas esportivas e culturais para para o desenvolvimento de jovens e crianças que vivem na periferia sul de São Paulo e tantas outras periferias do estado, bem como de que maneira olhar para esse público reflete no desenvolvimento comunitário.
Arte, esportes e pessoas com deficiência
O corpo da pessoa com deficiência, assim como todos os outros, é muito capaz, independente do tipo de deficiência. As Paralimpíadas, por exemplo, são um grande exemplo de que a pessoa com deficiência pode ir além. O evento é realizado desde 1960, a nível mundial, e o Brasil tem grande destaque, sendo um dos 10 países mais medalhistas da competição.
Na edição de 2016, por exemplo, o país conquistou 72 duas medalhas. Já nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2021, os brasileiros faturaram 63 medalhas. Além disso, eles formaram a maior delegação do evento com 253 atletas, dentre eles Júlio César Agripino.
Agripino possui deficiência visual é o atual campeão mundial de atletismo na prova dos 1.500m na classe T11. O atleta mora em Itapecerica da Serra, município próximo das regiões periféricas do sul do Estado de São Paulo.
Os Jogos Paralímpicos são uma grande mostra, não só da capacidade do corpo da pessoa com deficiência, mas da importância terapêutica da prática esportiva para esse grupo de pessoas. Os esportes estimulam as habilidades motoras, fortalecem os músculos, treinam o cérebro e ajudam na interação social.
Conheça o Instituto Olga KOS
Dentro do contexto de iniciativas inclusivas, o Instituto Olga KOS, uma associação sem fins econômicos, que desenvolve projetos artísticos e esportivos aprovados em leis de incentivo fiscal, para atender, prioritariamente, crianças, jovens e adultos com deficiência intelectual, faz um trabalho incrível.
Um de seus projetos, o Karate-Do Kids, já beneficiou mais de 100 crianças e jovens das periferias de São Paulo e não atende somente pessoas com algum grau de deficiência intelectual, mas também destina 20% das vagas da oficina para jovens e crianças sem deficiência que vivem em situação de risco social.
A mesma estrutura se aplica aos projetos de artes desenvolvidos pelo IOK, que busca divulgar a diversidade cultural e artística do Brasil e incentivar o exercício da arte como forma de trabalhar os canais de comunicação e expressão dos participantes. E, claro, reunindo pessoas com e sem deficiência, proporcionando assim a interação.
[gdlr_quote align=”center” ]“A metodologia pedagógica aplicada nas oficinas de artes ou esportes está fundamentada em construir a autoestima, confiança, compartilhar experiências e reconhecer a si e ao próximo por meio de ações interdisciplinares”, explica Silvia Liz, Coordenadora do Departamento de Cultura do Instituto Olga KOS.[/gdlr_quote]
Silvia aproveita para alertar que faltam políticas públicas para a garantia dos direitos das pessoas com deficiência, conforme prevê a Constituição Federal e a Lei Brasileira de Inclusão de 2015, e que a inclusão “é um processo contínuo”, que deve reunir esforços múltiplos de órgãos, governo e instituições que atuam em prol dessa causa.
[gdlr_quote align=”center” ]“Ser incluso, é lutar para equidade das pessoas, é reconhecer que as desigualdades existem entre os indivíduos para assegurar o tratamento desigual aos desiguais na busca pela igualdade”, completa Silvia.[/gdlr_quote]
21 de setembro é o Dia da Luta Nacional das Pessoas com Deficiências, vamos compreender, incluir e amar a todos. Como diria o educador Billy de Assis, precisamos ter “um olhar que valoriza” cada um de nós, pois todos “somos iguais na diferença”.
Um olha que valoriza por Billy de Assis
Independente da deficiência,
todas as pessoas possuem eficiências.
O olhar que valoriza
deve o oferecer diferentes maneiras de construção do conhecimento,
pois somos todos os iguais na diferença
Sendo assim, nosso olhar, falar, caminhar
e, principalmente, a forma de se expressar
devem ser entendidas como peculiaridades
dentro das possibilidades que me são oferecidas.
Somos especiais, somos diferentes,
somos deficientes e eficientes.
Minhas potencialidades vão depender
única e exclusivamente das possibilidades que me serão ofertadas.
Assim, eu poderei falar, cantar e até gritar.
Poderei tocar a melodia da alegria e me entregar ao dom que me foi dado.
O dom de amar, ser amado e respeitado.