A Fundação ABH, desde 2018, vem incentivando organizações locais, centros comunitários, coletivos e negócios sociais a desenvolver atividades que, de diferentes maneiras, colaboram com o desenvolvimento das suas regiões e comunidades. Isso é entendido como desenvolvimento comunitário local.
Neste artigo, vamos explicar o que é esta prática, como ela é importante e relevante para todos os cidadãos de uma localidade e como a Fundação ABH entende que é por meio deste tipo de prática desenvolvimentista que podemos colaborar com a geração de impacto social.
O que é Desenvolvimento Comunitário Local
O desenvolvimento comunitário local é a combinação e orquestração de uma série de ações que objetivam a diminuição das desigualdades em uma determinada região ou bairro.
Gerar soluções para os problemas específicos de um grupo, localidade ou comunidade a partir das suas próprias potencialidades, características e ativos é a principal proposta do desenvolvimento comunitário local. Os problemas identificados podem ser de natureza política, econômica, social ou ambiental, mas deve ser percebidos, sentidos e expressados pelos próprios integrantes destes grupos.
As organizações que trabalham segundo as práticas do desenvolvimento comunitário local, como a Fundação ABH, acreditam que quem está vivendo os problemas também têm plena potencialidade de colaborar na construção da sua solução.
Como acontece o desenvolvimento comunitário local
O Desenvolvimento Comunitário Local é uma abordagem que gera mudanças a partir das comunidades e não apenas para elas. Se as comunidades se concentram no que possuem – dons, talentos e ativos – fortalecem o que sabem fazer e o que já são capazes. Com isso, podem planejar suas próprias mudanças. Esta é uma jornada que consiste nos seguintes passos:
A importância do Desenvolvimento Comunitário Local
Segundo esta perspectiva de desenvolvimento, quando há a participação ativa dos envolvidos no processo, aumentam-se as chances de que os resultados sejam mais sustentáveis e duradouros. Além disso, potencializa-se a utilização dos recursos locais e dos recursos públicos, já que ninguém melhor que os próprios usuários para dizer o que é preciso para cada necessidade e para solucionar cada dor.
O desenvolvimento comunitário local não surge sozinho. Ele é fruto dos esforços de múltiplos atores, que realizam ações ao longo de vários anos em determinada região, buscando a solução de um ou mais problemas e apostando na construção de uma alternativa para o desenvolvimento local e regional.
Incentivar esse tipo de desenvolvimento é apostar na importância da descentralização política e da importância da cooperação entre muitas partes interessadas, para que o desenvolvimento local aconteça de dentro para fora.
Desenvolvimento Comunitário Local Como Ferramenta Para Impacto e Transformação Social
Cada localidade tem características geográficas, sociais, culturais e econômicas e por isso, os projetos de desenvolvimento local não são padronizáveis e devem ser idealizados e pensados em conjunto com aqueles que estarão usufruindo dos frutos deste desenvolvimento. O processo do chamado participativo e a articulação das pessoas que vão sonhar e desenhar, planejar e visualizar como será essa vida futura, já é por si só parte do desenvolvimento.
O foco no desenvolvimento de dentro para fora, para que haja autonomia e independência na criação dos futuros desejados, é premissa do desenvolvimento comunitário local. A transformação que ocorre de dentro para fora – ou seja, a partir dos recursos existentes na comunidade – também permite a construção pouco a pouco de capacidade e das bases de sustentação para reações conjuntas às ameaças que possam vir de fora da comunidade.
A atuação da Fundação ABH em São Paulo
A partir de valores como generosidade, liderança, ética e disciplina, a Fundação ABH nasceu buscando transformar o mundo qualificando pessoas, investindo em talentos e utilizando conhecimento e tecnologia para minimizar a pobreza, gerar renda e otimizar recursos em benefício de todos.
Marina Fay, presidente da Fundação, conta que “Desde 2015, quando começamos a apoiar projetos, sempre fez parte do nosso DNA escutar os apoiados e buscarmos formas de sermos mais relevantes. Não queríamos apenas ser mais um ator e ‘fazer mais do mesmo’, mas sim, buscar maneiras de preencher lacunas existentes no setor e somar aos trabalhos que já vêm sendo realizados. Por sermos uma fundação familiar, temos flexibilidade para testar novos modelos e buscar maneiras de sermos mais efetivos em nossa atuação social.”
Considerando que sua atuação sempre foi geograficamente próxima à região sul da capital paulista, desde 2019, para maximizar o impacto dos investimentos, poder estar mais próximos das iniciativas apoiadas, passou-se a lançar editais para financiar iniciativas desenvolvidas na periferia sul da cidade.
“Foi assim, escutando, estando presencialmente nas comunidades apoiadas para entender suas dores e potencialidades e acreditando que ações colaborativas são mais potentes do que ações isoladas, pois todos temos saberes e habilidades que podem contribuir e somar a outros trabalhos, que enxergamos na filantropia comunitária e no desenvolvimento comunitário local um terreno fértil e potente de trabalho.” – explica Marina Fay.
O distrito do Jardim Ângela (parte da subprefeitura do M’Boi Mirim), nos anos 90, foi classificado pela ONU como o bairro mais violento do mundo. Muito trabalho de desenvolvimento local foi realizado por lá, e hoje o Ângela e os seus distritos e bairros vizinhos têm uma condição melhor. O trabalho comunitário por lá ainda é enorme. Um dos projetos apoiados pela Fundação em 2019, foi a Quebrada Orgânica. “Quebrada”, em São Paulo, é gíria jovem periférica para designar vizinhança, redondeza, bairro. O projeto criado por moradores do bairro, leva composteiras de resíduos orgânicos e cria de hortas nas escolas e espaços públicos.
Focar o desenvolvimento local comunitário na periferia sul da capital paulistana
Historicamente, na cidade de São Paulo, o crescimento populacional da região sul foi causado pela acumulação econômica e pela especulação imobiliária que, tal qual em outros centro urbanos, empurra as populações mais pobres para áreas cada vez mais distantes dos centros.
Em 2007, a F. de São Paulo veicula uma reportagem que fica famosa. Dizia: “A cada assassinato em Moema, 130 são mortos no Grajaú”. Para quem não é de São Paulo e lê esse blog, Grajaú é uma das regiões que ficam no sul da cidade. Nesta mesma reportagem, outro dado alarmante era evidenciado: “O bairro do Grajaú tem a 7ª pior renda média da cidade (R$ 597,70), enquanto o bairro rico (Moema) está na segunda colocação (R$ 5.576,78).” Uma diferença de 10 vezes! (Fonte: Uol)
Foi no Distrito de Parelheiros, onde a Fundação ABH e o CPCD firmaram parceria em 2015 para implementar o Projeto Sementinha na Chácara Santo Amaro. O CPCD (Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento), fundado pelo Tião Rocha, é a organização social referência no desenvolvimento e mobilização para a realização de projetos comunitários de desenvolvimento com base nas potencialidades e saberes locais.
Em treze anos, a situação mudou um pouco, mas o extremos da região sul da cidade de São Paulo, continua merecendo muita atenção e muito apoio para ampliar seu desenvolvimento sócio econômico. A gente pode encontrar dados riquíssimos sobre a realidade dos bairros da cidade de São Paulo no Mapa da Desigualdade desenvolvido pela nossa São Paulo publicado em 2019.
A Fundação ABH foca seus esforços e recursos investindo em iniciativas que surgem a partir das comunidades para a melhoria das suas qualidades de vida, como é o caso do coletivo de comunicação Desenrola e Não Me Enrola, também no Jardim Ângela, que oferece formação aberta sobre comunicação para outros coletivos, articuladores culturais e empreendedores da zona sul de São Paulo.
Marina Fay e sua atuação estratégica para alocar recursos no fortalecer de fundações comunitárias
Por meio do incentivo a projetos que valorizem os recursos locais, fomentem a economia local, valorizem o desenvolvimento territorial, a cooperação entre os atores locais e oportunizem o acesso a serviços e direitos, a Fundação ABH, lado a lado das comunidades, contribui para o desenvolvimento comunitário.
A Marina Fay, presidente da Fundação ABH, em 2017, foi Fellow no Centro em Filantropia e Sociedade Civil da Universidade da Cidade de Nova Iorque (CUNY) que oferece a líderes internacionais um programa de desenvolvimento profissional por meio de seminários e reuniões com profissionais do terceiro setor, pesquisas e modelos de boas práticas.
As decisões de investimento social privado da Fundação ABH são direcionadas por dezenas estudos, entrevistas e vivências que a Marina Fay participou desde que foi voluntária em ONGs no Brasil, e assumiu uma posição no Médicos Sem Fronteiras em 2013 em Moçambique. Já Diretora Executiva da Fundação ABH, como Fellow da CUNY, pesquisou a alocação estratégica de recursos para fortalecer e desenvolver fundações comunitárias no Brasil, o que direcionou consideravelmente a atuação estratégica da organização.
“Com o vasto território brasileiro, a alta porcentagem de comunidades vulneráveis rurais e urbanas, o cenário político atual e o alto índice de organizações não-governamentais estabelecidas, a filantropia comunitária é uma forma interessante de filantropia para dar voz e capacitar populações vulneráveis, a fim de combater a pobreza e a desigualdade.”